segunda-feira, novembro 06, 2006

A Crise no Transporte Aéreo Brasileiro

O Brasil trouxe à tona com o recente acidente da Gol, a crise existente no transporte aéreo brasileiro, embora no que diz respeito à melhoria dos aeroportos, os governos Fernando Henrique e Lula tenham feito investimentos importantes.
A fragilidade do sistema aéreo foi sendo sentida com o desaparecimento da Vasp e da Transbrasil, que prestaram relevantes serviços ao Brasil, na descoberta de novas rotas mas que infelizmente não conseguiram competir com as grandes empresas do setor, mormente as internacionais, pela falta de hub e capacidade reduzida de aeronaves. A própria Varig nos deu um grande susto e está até hoje, sem definição, por falta de vontade política de nossos governantes em auxiliar a empresa que mais contribuiu para a fixação da imagem do Brasil, no exterior e transportou inúmeras delegações de brasileiros, gratuitamente para os grandes eventos do Turismo.
A criação da Anac, muito desejada pelo trade turístico se tornou um órgão político, dirigido por companheiros da situação, com pouca ou nenhuma experiência na área do transporte aéreo. O Rio de Janeiro perdeu a sede de tal agência, que parece ainda não ter se consolidado.
Um dos maiores orgulhos do Brasil e que funciona muito bem, são os centros integrados de defesa aérea e controle de tráfego aéreo (Cindactas) que une o controle do tráfego civil e militar, diferentemente da Europa e dos EUA. Em última instância, tal procedimento significa que operadores que controlam os aviões civis podem, por exemplo acionar os caças da Força Aérea para operações de interceptação, em caso de invasão do espaço aéreo nacional. O controle começa na torre de controle do aeroporto, que se responsabiliza por pousos, decolagens, deslocamento interno e pistas de táxi. Os controladores, ao entrarem na chamada operação padrão, demonstraram que nossa segurança deve ser avaliada.
Em primeiro lugar, faltam profissionais na área, que em nossa opinião, não deve ser desmilitarizada, pela necessidade de padrões de gestão, muito bem estruturados. A MP do Presidente Lula não vai surtir efeitos tão rápidos como esperados, em função da capacitação de tais trabalhadores, cuja atividade demanda uma atenção fora do comum, traduzida numa escala de trabalho diferenciada, que alguns tiveram a ousadia de chamar de casta, por desconhecerem a relevância da profissão e os salários não competitivos, atualmente percebidos.
O incômodo causado a milhares de brasileiros nos aeroportos durante o último feriado não pode ser atribuído às empresas aéreas, embora elas devam se posicionar de forma mais efetiva nas decisões governamentais, sobretudo através do SNEA. Os atrasos nos aeroportos não fogem as rotinas mundiais, mormente depois do atentado do WTC e as ameaças nos grandes centros turísticos, como Paris, que obrigaram a Comunidade Européia a mudar o regulamente de transporte de bagagens. O passageiro deve estar ciente de que eventualmente ocorrem problemas, por isso os horários dos vôos são estimados e teoricamente previstos e confirmados, depois da saída do avião. Assim, a destruição de um terminal de uma companhia aérea demonstrou vandalismo mas também despreparo do staff, para situações emergenciais. Estamos cientes de que o sonho acalentado de uma viagem pode ir por água abaixo, com um problema de vôo. Emblematicamente, o transporte pode acabar prejudicando outros prestadores de serviços, como ocorreu com a hotelaria nacional, que teve uma média de 35% de no show ou cancelamentos, representando 1/3 das reservas, em períodos considerados de alta ocupação,que ajudam a reduzir a sazonalidade, tão presente no Turismo.
As manchetes nacionais e internacionais ganharam espaços importantes com tal acontecimento, que infelizmente envolve um dos aspectos mais frágeis da Marca Brasil, que é a segurança. O grande desafio está em como solucionar um problema, que vai se agravar, sobretudo com a meta de 9 milhões de turistas estrangeiros do governo federal e o incremento do turismo nacional, através de programas, como o Vai Brasil e as tarifas promocionais aéreas.
Faz-se necessário a criação de um grupo de estudo, capitaneado por especialistas , que busquem uma forma de atender os preceitos da ICAO, a Organização Internacional da Aviação Civil, mas sobretudo que unifiquem os procedimentos das diversas atividades no Brasil e não se esqueçam da importância da Aeronáutica , neste momento de crise institucional.

Bayard Boiteux e Mauricio Werner dirigem a Escola de Turismo e Hospitalidade da UniverCidade.