sexta-feira, março 24, 2006

Turismo e Ordenamento do Território: "Algarve"

O Diário Económico publica um muito lúcido artigo de opinião de João Paulo Guerra, em cujos termos "Autarcas e empreendedores turísticos estão do mesmo lado da barricada na apreciação do novo Plano de Ordenamento do Algarve.
E o presidente da Região de Turismo sintetiza a apreciação comum afirmando que o PROT significa 'a morte anunciada do Algarve'. E é aqui que está o engano. Do Algarve já se não se trata da 'morte anunciada' mas da autópsia. O Algarve foi ferido de morte há muito tempo e a assistência dada ao moribundo foi de molde a acelerar o desenlace. O medicamento, receitado por empreendedores e administrado precisamente por autarcas, tem sido o betão. E é mais betão o que pretendem os contestatários do PROT.
A questão é que enquanto o PROT vai e vem não folgam as costas algarvias, nem sequer o interior. E já se anda nisto há três anos. Entretanto, os factos consumados e os 'direitos adquiridos” têm avançado sem qualquer contemplação. Enquanto o Plano foi elaborado e começa agora a ser discutido, há milhares de projectos aprovados, de Vila do Bispo a Vila Real de Santo António, do Martinhal a Castro Marim, do litoral para o interior. Ninguém de bom-senso acredita que, aprovado o PROT, todos esses projectos venham a ser revistos e alguns eventualmente impugnados. O presidente da Junta Metropolitana, Macário Correia, disse em tempos que o 'exagero urbanístico' se deve à 'falta de fiscalização'. Mas, na qualidade de autarca e antes que o PROT vigore, o ex-ecologista quer pelo menos mais seis hotéis em Tavira e fazer do interior do concelho o que já fez, por exemplo, de Cabanas: um labirinto de apartamentos e de construção em cima da Ria cada vez menos Formosa.
O modelo de crescimento massificado e desordenado do Algarve foi determinado pelos interesses de empreendedores e executado por autarcas. E do que uns e outros tratam agora não é de evitar a 'morte anunciada' mas de embelezar o cadáver. jpguerra@economicasgps.com"