Democracia e Turismo
O conceito de democracia é cada vez mais subjetivo e nele estão patentes duas visões: uma que apresenta o pluripartidarismo, as eleições e o livre arbítrio e outra que se refere aos direitos fundamentais de sobrevivência do cidadão, como saúde, educação, trabalho, habitação e lazer. Na atual conjuntura mundial, é difícil e até utópico encontrar uma democracia onde ambas visões estão presentes.
O fenômeno Katrina, nos Estados Unidos, mostrou como teoricamente a maior democracia ocidental trata seus habitantes negros e pobres. Por outro lado, os recentes incêndios na França, em prédios habitados por imigrantes demonstra como o problema também atinge o país que é o símbolo da liberdade, na Europa.
A democracia é uma forma de construção do homem, na sua aceitação e sobretudo no olhar crítico das diferenças e da revolução silenciosa da globalização. Não existe democracia sem liberdade, mas liberdade só sobrevive com “barriga cheia e condições dignas de vida”. Entre elas, está o turismo, entendido aqui como a possibilidade de descanso e de fortalecimento da personalidade, através de uma viagem que nos tira de nosso local de residência habitual.
O turismo é uma forma de tornar o mundo mais humano, de aproximar pessoas de religiões e padrões de cultura diferentes, mas sobretudo, criar um meeting point na aldeia globalizada. Ele deve ser entendido como uma ferramenta de responsabilidade social, para reduzir as desigualdades econômicas existentes no mundo. Sua função não é criar parques temáticos com os habitantes da localidade sem o mínimo entendimento do fator cultural: índios não são personagens temáticos de parques de diversão, nem as religiões afro-brasileiras podem adequar seus rituais aos idiomas estrangeiros, sob pena de se tornarem um teatro folclórico.
Estamos seguros de que o turismo planejado com visão estratégica de criação de infra-estruturas e não só de promoção e aumento de turistas, poderá representar um avanço e uma forma de minimizar a pobreza. Torcemos para que os iluminados do poder encontrem soluções de médio e longo prazo para seus programas partidários.
A democracia precisa do turismo, sem fronteiras, sem exigências de visto, sem burocracia e fila nos aeroportos, como sugere o código de ética mundial do turismo da OMT. Deve ser pautada na capacidade de carga, na proteção e sobrevivência do meio ambiente e da cultura local, salientando que a formação do indivíduo é atingida pela sua efetiva participação na construção de um país, que pode sobreviver sem mensalão, mensalinho e com a convicção e respeito de que a Humanidade é prioritária.
Democracia turística é o apelo que o mundo deve fazer para inibir novas guerras, novos atentados, novas destruições de museus, sob o pretexto de uma pseudo-liberdade ocidental.
Bayard Do Coutto Boiteux é diretor do Curso e do MBA em Turismo da UniverCidade, no Rio de Janeiro e presidente do site Consultoria em Turismo (www.bayardboiteux.pro.br)
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